EPICURO E O EPICURISMO
1. Epicuro (341-271/70) nasceu em Samus; filho de Neócles, um
mestre ateniense versado em Gramática, que residiu em
Samuns desde 352 até poucos anos antes de sua morte. Sua mãe,
Querestraté, era uma praticante de magia.
Sua formação acadêmica gira em torno de suas escolas
diferentes: a platônica e democriteana. Primeiro, Epicuro estudou
com
mestre Pánfilo, na cidade de Samus, onde recebeu as suas primeiras
lições do sistema filosófico de Platão. Mais
tarde torna-se
discípulo de Nausífanes de Teos, cuja escola freqüentou
durante dois anos, sendo ali iniciado na filosofia de Demócrito,
mais
propriamente na doutrina atomista.
Aos 16 anos (323) viajou para Atenas a fim de prestar serviço
militar. Regressou depois a cidade natal, Colofón, e até
310,
somando já 30 anos, nada mais se sabe sua trajetória
biográfica. Por volta de 311 a.C. Epicuro dá início
a seu ofício de
mestre, fundando uma escola que se dedicaria a ensinar sua própria
versão da Física democriteana e possivelmente uma
concepção antiga de ética, que agora amplia e
se apropria. A partir desse ano, ou seja, aos 30 anos, aparece já
atuando
como mestre na cidade de Mitilene, na qual funda uma escola, que anos
mais tarde muda para a calma cidade de Lampsaco,
para afinal e definitivamente levá-la para Atenas.
Entretanto, platonistas e aristotélicos, partidários de
uma república ortodoxa, levantaram sérias suspeitas contra
as novas idéias
de Epicuro, acusando-o de impiedade, corrupção e outra
forma de "desvios racionais", o que fazia sua vida incorrer em sério
perigo.
Voltará a Atenas por volta de 307-6 com permissão do governante
local Demetrio, depois que diminui o predomínio da
influência dos platônicos, causada pelas agitações
políticas por volta de 311 d.C. Em Atenas a escola de Epicuro foi
estabelecida no jardim de sua própria casa, resultando daí
o nome pelo qual a escola veio a ser conhecida: "filósofos do
jardim".
Epicuro era homem de pouca saúde. Diz-se que sofria de doença
renal crónica , da qual morre em 270 a.C. Entretanto a
doçura e a afabilidade do seu caráter, sua firmeza para
sobreviver a dor e o sofrimento, fê-lo conquistar a estima e o apreço
dos seus discípulos, e também dos seus concidadãos.
Diz-se que "seus discípulos o veneravam como a um ser divino" .
Por outro lado Epicuro era também um homem de grandes dotes pessoais,
manifestados em seu estilo sóbrio e renitente. A
isso deveu o seu êxito e doutrina como mestre, e não só.
Possua ainda grande clareza e sinceridade nos seus ensinamentos,
voltados para as tristes circunstâncias do seu tempo.
Sua Escola, mais do que uma escola filosófica era uma fraternidade
à maneira da academia ou do liceu. Diz-se ter ela sido "um
circulo de amigos, uma espécie de seminário ou de congregação,
ou melhor, uma casa de retiro e um sanatório moral. Jovens
inquietos ou pessoas maduras feridas pela vida, iam buscar um asilo
de paz e amizade" .
Mestre e discípulos, simpatizantes e adeptos, compartilhavam
uma vida austera, frugal, de retraimento e retirada. E por causa
das experiências e ensinos de Epicuro, lograram optar pela negação
da posse, menosprezando com elas o dinheiro e toda a
sorte de dignidades "fugazes" da vida. Com isso, visavam a paz do espírito
e a tranqüilidade dos ânimos, na qual faziam
consistir a felicidade.
Quanto aos seus ensinos, Epicuro enfatizava principalmente a arte de
viver em paz, de conservar a serenidade da alma em
meio as tribulações externas. Ou, como Eugênio
Montes ensina: "Epicuro não espera nada. Inventa uma arte, impossível,
de
não desesperar sem esperar" . À tudo isso acrescentava
sua visão da física, da epistemologia, da moral, etc.
Seus escritos não chegaram, por inteiro, até nós.
Seja como for, Epicuro expôs a sua doutrina num grande número
de escritos,
pela maior parte perdidos. Somente chegou pouco dos seus fragmentos
escritos, que teriam somado aproximadamente
trezentos títulos. Os mais conhecidos são o Canon e o
Banquete. E do seu tratado geral Sobre a Natureza (37 livros ao todo)
apenas restam poucos. Contudo, pelo menos três epistolas autênticas
estão conservadas até hoje, quais sejam: Aldomeneo, A
Herodoto, Sobre os Elementos da Física, e a Meneceo, isto é,
sobre os princípios fundamentais da moral.
2. Epicurismo
Depois do progresso obtido pela escola em Atenas, ventos do programa
macedônio da Helenização levou o pensamento da
escola para o mundo conquistado por Alexandre. Sendo um sistema doutrinariamente
atraente e diverso, outrotanto liberal ,
rapidamente atraiu um grande número de discípulos por
todo lado, além de inimigos entre políticos e detratores
em geral.
Diz-se que ao morrer, por volta de 270 a.C., Epicuro havia transformado
a sua escola em um centro intelectual, e não apenas
uma filosofia religiosa ou sistema de costumes, como de outras escolas
se fazia. Mestres epicureus se estabeleciam em cidades
importantes como Roma, Antioquia e Alexandria.
No cenário helenístico o Epucurismo encontrou adversários
em duas escolas que o ajudaria a organizar seu sistema filosófico:
o
Estoicismo e os Céticos. Os debates decorrentes levaram o Epicurismo
a desenvolver com mais detalhes suas doutrinas,
mormente a epistemologia e algumas teorias éticas, especialmente
aquelas concernentes a amizade e as virtudes.
A doutrina do Epicurismo compreende, entre outros aspectos, uma doutrina
moral, física, lógica, canônica e ética. Esta
última
tinha um caráter mais prática do que meras racionalizações
teóricas.
A física se baseava no atomismo de Demôcrito, cujas conseqüências
Epicuro aceitava integralmente, além de justificá-las
razoavelmente. Segundo o Epicurismo, toda a natureza era constituída
de âtomos, inclusive a alma. Uma vez que esta dissolve
com eles, o Epicurismo ensina que não há razões
de temer outra vida, pois não existe. Da mesma forma, a escola aprendeu
com Epicuro a crença de que até mesmo os deuses, se existem,
são impassíveis e inofensivos, situados completamente fora
e
aquém do universo.
Quanto ao conhecimento, a gnosiologia epicurista é rigorosamente
sensitiva. O Epicurismo ensina que todo o saber se funda
exclusivamente na sensação, que é registrada ou
conservada pela memória por idéias-imagens (=Demócrito).
As sensações é
que dão o ser do indivíduo material, que constitui a
realidade originária. Esse processo cognoscitivo é explicada
mediante os
fantasmas, que seriam imagens em miniatura das coisas, de onde vêm
(mediante os sentidos) diretamente para a alma.
Portanto, o conhecimento é todo deduzido das faculdades sensitivas,
enquanto o conceito aparece considerado como simples
antecipação (prolepsis) do futuro. Chama-se essa doutrina
de materialismo puro .
Para os Epicureus a Filosofia é a arte da vida, por ser instrumento
do conhecimento do mundo, da física, ou , como bem dirá
Epicuro, "libertar o homem dos grandes temores que ele tem a respeito
da sua vida, da morte, do além-túmulo, de deus, e
fazer com que atue de conformidade" . Portanto, o Epicurismo desenvolve
uma concepção materialista no que diz respeito aos
princípios primeiros das coisas (todas as coisas, inclusive
os deuses e as almas, são constituídas por átomos
e vácuo).Com
respeito aos fenômenos da natureza o Epicurismo é mecanicista,
pois considera que todos os fenômenos são restritos
exclusivamente ao movimento e à sua lei.
A moral, simples em sua natureza e intenções, comporta
análises mais sutis. É, eminentemente, uma moral do prazer.
Mas o
Epicurismo faz consistir esse prazer não aos sentidos! No tocante
a estes, o prazer se torna apenas fugaz, já que sensações
mudam, há vezes tão rapidamente que podem degenerar em
dor. Aí não se procura o prazer.
Ele se situa no espírito. No espírito, ao contrário,
ele se apresenta calmo e mais duradouro, completamente isento de
perturbações. Daí o segredo da felicidade, que
para os Epicureus, consiste na "ataraxia", o repouso num gozo natural e
moderado. Conduz a ela a disciplina que afasta os desejos fictícios
(a riqueza, a ambição do poder e a vanglória) e a
virtude
orientada pelas virtudes cardeais: a prudência, a temperança,
a justiça e a amizade. Epicuro no entanto desconfiava também
das relações afetivas, sendo por isso importante ao epicurismo
recomendar ao sábio não casar.
Enfim, o Epicurismo teve larga difusão entre os romanos (Siro,
Lucrécio, Horácio, Virgílio), entre os judeus - por
oposição
(Moisés Moimónides) e entre os cristão dos primeiros
séculos, como se depreende de um texto anônimo em meu poder
.
Hitherto, um conceito de maior importância ao Epicurismo é
a noção de bem, que define a personalidade "sedutora" de
Epicuro. Escrevendo (sobre) o Soberano Bem, as suas linhas velem por
todo o programa filosófico dessa doutrina: "quanto a
mim, não sei o que se poderia chamar de bem, tirados os prazeres
da mesa, do amor, da conversação e das coisas belas".
Mais tarde escreve à um amigo no mesmo tom: "Foge a todo o constrangimento,
feliz e com as velas desfraldadas" . Daqui
resulta o fato de a Moral epicurista ser chamada de Hedonismo, ou seja,
na medida em que faz consistir a felicidade, o bem
supremo do homem, no prazer (hedonè).
Enfim, a moral epicúrea apoia-se ainda na afirmação
da liberdade do homem. O Epicurismo ensina que a vontade humana não
tem senhor mas não é anárquica. Não obstante
indeterminista, a liberdade dos Epicureus não é anarquia,
antes algo
acompanhada de responsabilidade que assenta nas virtudes do homem sábio.
Patrocina, pela sua condição de determinar a
vontade autônoma, a necessidade da lucidez, da autocontrole,
enfim, da imperturbabilidade orientada para o bem supremo.
Algumas Máximas de Epicuro e Epicuristas:
"Pleasure is the beginning and the end of living happily." Epicurus (341-271 B.C.)
"Nada vem do nada; nada acaba em nada".
"Plain dishes offer the same pleasure as a luxurious table, when the
pain that from want is taken away. Bread and water offer
the greatest pleasure when someone in need partakes of them."
"Plain dishes offer the same pleasure as a luxurious table, when the
pain that from want is taken away. Bread and water offer
the greatest pleasure when someone in need partakes of them."
"Some men spend their whole life furnishing for themselves the things
proper to life without realizing that at our birth each of us
was poured a mortal brew to drink."
"Es mejor seguir la mitología de los dioses que someterse a la
inevitable necessidad de la Naturaleza, porque los dioses dan la
esperanza de dejarse aplacar mediante el culto, mientras que la Naturaleza
es implacable e ciega".